top of page
Buscar
Foto do escritorFelipe Schadt

A única coisa que preciso prometer para 2025



> Na volta do almoço de 1º de janeiro - aquela clássica refeição de tudo o que sobrou da ceia da noite anterior -, eu passei pela frente da academia que fica perto da minha casa e comentei com a Carol que na próxima segunda-feira, as academias de todo território nacional estarão lotadas. Ela me olhou e concordou quase de maneira melancólica, pois para ela, frequentadora de academias durante o ano todo, será um saco dividir espaço com pessoas que só aparecem nas primeiras semanas de janeiro e vão sumindo aos poucos até ressurgirem no ano seguinte. Eu já fui essa pessoa. "Esse ano eu vou pegar firme na academia!" Não durou três meses. 


Ao chegar em casa, olhei para minha biblioteca e fiz uma conta meio preguiçosa e transversal pelas prateleiras e cheguei a imprecisa conclusão de que tenho mais ou menos 200 livros. Desses, a maioria não foi lida ainda e eu me lembrei do quanto eu preciso ler mais. Em 2023 eu li razoavelmente bem, já em 2024 eu li muito menos do que eu gostaria. Olhei para um livro que está fora da estante e com o marcador de páginas estacionado no segundo capítulo há meses. Ok, li outros no período, mas queria terminar o que eu comecei. 


Finalizar coisas que começo não é muito meu forte, principalmente quando o assunto são os projetos de escrever minhas histórias. Eu tenho tantas ideias e esboços que se eu terminasse tudo, daria para ter uma prateleira inteira cheia de livros meus. Eu sempre começo com fôlego, mas o cotidiano vai me tirando do foco e quando eu vi, mais um potencial vencedor do Jabuti engavetado.


Me exercitar com regularidade, ler com frequência e finalizar projetos iniciados são as promessas que eu sempre me faço. Mas eu me conheço (e agora me aceito) o bastante para não me enganar ao ponto de acreditar em velhas promessas. 


Um dia desses, eu estava descumprindo uma das minhas promessas para mim mesmo e estava rolando o feed do Tik Tok a esmo quando me deparei com um vídeo da professora Lúcia Helena Galvão em um desses podcasts. Ela disse algo que me pegou muito: "Antes de dormir, reflita se você fez alguma coisa no seu dia que você foi realmente feliz". Eu não podia ter ido dormir sem essa!


se submeter a uma vida que você não quer repetir ou tomar as rédeas da própria existência e fazer aquilo que faz a vida valer a pena?

É uma frase altamente nietzscheana por falar do eterno retorno, um conceito que diz que o instante de vida que vale a pena ser vivido é aquele que você gostaria que durasse para sempre. Por isso, fiz uma adaptação na frase da professora: "Antes de dormir, feche os olhos, fique em silêncio e se pergunte 'qual momento do meu dia eu quis que durasse para sempre?'". Joguei isso no meus stories do Instagram para provocar quem a lesse. Na verdade eu queria causar nos outros o que essa reflexão me causou: incômodo com a vida que levamos.


Imagina você, no final do dia, chegar a conclusão de que nenhum mísero momento das suas últimas 24 horas seriam merecedoras de serem repetidas infinitas vezes? É um atestado de que seu dia não valeu a pena ser vivido e que, portanto, foi jogado fora.


Outra reflexão possível é encontrar uma ou outra coisa no seu dia que foi um instante de vida que valeu a pena viver. Quanto do seu tempo você se dedicou a esse momento? De todo o seu dia o único momento que valeu a pena durou muito menos do que todos os outros que não valeram? Não me parece muito melhor.


Isso me faz lembrar do conceito do Happy Hour. Milhares de pessoas esperam ansiosamente a sexta-feira às 18h para finalmente "serem felizes" na mesa de um bar qualquer. Quer dizer, de todos os sete dias da semana, você só foi feliz durante às 18h da sexta até às 20h do domingo? 


Eu fiz a pergunta da professora na virada do ano em um formato mais denso. "Qual instante do meu ano eu queria que durasse para sempre?" Felizmente, para mim, a grande maioria dos 366 dias mereceriam ser vividos infinitas vezes. Um golpe de sorte? Talvez sim, mas também tem muito a ver com as escolhas que fiz.


Escolhi trabalhar com o que eu gosto, estar por perto de pessoas que me alegram, ir para lugares que amo, realizar sonhos que pareciam ser impossíveis. Ao mesmo tempo, pude me afastar de lugares que me faziam mal, de pessoas que me entristeciam e de situações que não valiam a pena minha energia.


Claro que isso é papo de privilegiado. Quantas pessoas no mundo podem dizer que o Happy Hour delas começa na segunda às 7h da manhã? A grande maioria, por infinitos motivos, trabalham com o que não gostam, convivem com quem entristece e, via de regra, quase nunca realizam sonhos por acharem (ou serem) impossíveis demais.


Mas aí que tá o desafio da pergunta da professora endossada pelo pensamento de Nietzsche: se submeter a uma vida que você não quer repetir ou tomar as rédeas da própria existência e fazer aquilo que faz a vida valer a pena? Não é fácil, mas é possível.


Não vou prometer ir para academia regularmente, aumentar a frequência da leitura ou finalizar meus projetos iniciados. Não sei se poderei cumprir. Mas o que posso e vou prometer é de todo santo dia antes de dormir me perguntar se houve no meu dia algo que eu quisesse que durasse para sempre. Mais! Eu prometo fazer cada vez mais coisas que me possibilitem viver uma vida que valha a pena viver.


Porque no fim das contas é isso mesmo: quando você vive uma vida cheia de instantes que valham a pena, a vida se torna muito legal de viver e aí, lá no fim da sua jornada, no encontro com a iminência da finitude, você possa fazer a última pergunta a ser feita: "Eu repetiria a vida que eu vivi infinitas vezes?" Feliz daquele que responder "sim".


Feliz ano novo!

Conhecimento é conquista.

-FS


P.s.: eu também prometo me dedicar mais ao meu blog. Gosto de escrever aqui. É um dos instantes que eu queria que durasse para sempre. Além do mais, eu até repaginei ele para ficar mais bonitinho.






45 visualizações0 comentário

Comments


bottom of page