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Foto do escritorFelipe Schadt

Como explicar o fenômeno Adeildo Nogueira, o novo prefeito de Campo Limpo Paulista?



> Até o começo da apuração das últimas eleições, que ocorreu no último domingo (6), ninguém tirava a reeleição do Dr. Luiz Braz (PSD) em Campo Limpo Paulista. Mas logo no início da contagem, o atual prefeito viu seu mandato chegar ao fim com a mesma incredulidade de alguém que estivesse vendo um meteoro caindo em cima de sua cabeça. Esse meteoro tem nome e partido: Adeildo Nogueira (PL).


Todo mundo foi na onda das pesquisas eleitorais que davam amplo favoritismo à releição de Luiz Braz. Uma delas, a primeira, antes mesmo do período de campanha, divulgada pelo Jornal de Jundiaí e realizada entre os dias 11 e 13 de julho, apontava que o atual prefeito tinha 48,3% de intenções de voto contra 18,3% de Adeildo. Já na última pesquisa antes da eleição, também divulgada pelo Jornal de Jundiaí no dia 02 de outubro, Dr. Luiz despontava com 49% contra 25% de Nogueira.


Mas uma única pesquisa dava um número completamente diferente. Realizada pelo instituto Veritá - uma empresa de Uberlândia-MG -, uma pesquisa cravava o candidato do PL com 50,4% dos votos válidos, contra 38,2% do atual prefeito. Esses números, completamente na contramão dos que estavam sendo divulgados até o momento, gerou desconfiança e ataques vindos de apoiadores de Luiz Braz.


O caso invadiu as redes sociais e foi divulgado pelo portal de notícias "Popular Mais" - assinado por Eduardo Rodrigues -, que acusou Adeildo de ter pago pela pesquisa. "O candidato Adeildo na pesquisa paga por ele, com o dinheiro do trabalhador e da trabalhadora da cidade, para surpresa de ninguém aparece em primeiro lugar", diz a linha fina - texto que vem logo abaixo do título da matéria.


Eu li a matéria e posso afirmar que é muito mal escrita. Sem nenhum compromisso com o jornalismo, o portal não poupa ao atacar Nogueira sem nenhum espaço para ouvir o outro lado. A tentativa da matéria era de desqualificar a pesquisa divulgada pelo candidato, afirmando que a mesma empresa que a realizou teria tido uma de suas pesquisas para a candidatura da cidade de São Paulo manipulada pelo PRTB (antigo partido de Adeildo Nogueira), dando a entender que o instituto teria sido "comprado" pelo partido. Na verdade, o instituto Veritá realizou e publicou a pesquisa correta, sem nenhuma manipulação. O que ocorreu foi que o PRTB publicou em suas redes resultados errados para favorecer seu candidato (Pablo Marçal), ignorando o que o instituto tinha apurado.



Print da matéria que acusa Adeildo de comprar pesquisa eleitoral (Reprodução: Popular Mais)

E essa informação eu consegui em menos de cinco minutos de pesquisa e apuração, mas o portal "Popular Mais" não fez o dever de casa. O pior, foi assistir a colegas jornalistas compartilhando essa informação falsa - de que o Instituto Veritá teria manipulado pesquisas a mando do PRTB - para tentar minar a credibilidade do instituto e os números que davam a prefeitura para Adeildo Nogueira.


No fim das contas, a pesquisa divulgada por Adeildo estava correta e praticamente cravou o resultado final. Adeildo Nogueira terminou com 48,98% dos votos válidos, 2303 a mais que seu concorrente do PSD e praticamente o dobro de votos que teve na última eleição.


Mas o que explica esses números tão expressivos? Vou tentar, e eu disse tentar, explicar. Mas para isso a gente precisa primeiro olhar para o histórico político de Campo Limpo Paulista. 


Lembro muito bem de um texto que fiz logo após a vitória - a terceira de sua carreira - de Luiz Braz em 2020. Na ocasião eu afirmava que o campolimpense não gosta muito de se aventurar na escolha de seu mandatário e sempre acaba elegendo alguém conhecido ou tradicional. A única vez que haviam tentado algo "novo", elegeu, em 2016, Dr. Japim - eterno candidato do PT mas que teve que mudar de partido (e foi para o PROS) para ter alguma chance na cidade  - e que no fim, foi muito mal avaliado e não conseguiu chegar nem perto da reeleição. Naturalmente, voltaram ao tradicional e elegeram Dr. Luiz no pleito seguinte.


Campo Limpo Paulista teve até 2024, apenas oito prefeitos diferentes em sua história de quase 60 anos, elegendo e reelegendo figurinhas carimbadas. Dr. Luiz era a mais carimbada de todas elas: prefeito por três mandatos, ainda ajudou outro colega médico, Dr. Armando, a ficar oito anos à frente da prefeitura. Para o histórico político campolimpense, seu quarto mandato seguia uma regra quase que sagrada.


A vitória de Adeildo Nogueira é histórica. Ele venceu a máquina, a tradição e um prefeito.

Então como Adeildo conseguiu quebrar esse ciclo? Ele não representa essa classe de políticos tradicionais da cidade, não é? 


Aí precisamos olhar para outro aspecto importante que são os resultados das duas últimas eleições. Em 2016, Dr. Luiz perdeu por epenas 12 votos. Já em 2020, ganhou com 2281 votos de diferença do segundo colocado, justamente Adeildo Nogueira que, na ocasião, teve 9222 votos.


Mas o ponto importante é que nas eleições de 2020 haviam nove candidatos no total, contra quatro em 2024. E se olharmos para quem não quis votar no Dr. Luiz, em 2020, teremos 7.515 (Aléssio Grandizoli), 4.974 (Dr. Japim), 3.822 (Prof. Evandro), 1.327 (Prof. Rui), 396 (Sargento Rafael), 286 (Dr. Edilson) e 82 (Calico), ou seja: 18.402 eleitores.


Adeildo sabia disso e foi nisso que ele se apegou. Para sua sorte e desespero do atual prefeito, apenas quatro candidatos disputaram as eleições em 2024, dois deles de primeira viagem (Antônio Carlos e Diego Di). As eleições em Campo Limpo foi de apenas dois candidatos e Nogueira trabalhou para obter o máximo de votos possíveis desses 18.402 que já tinham rejeitado Dr. Luiz em 2020. Conseguiu cerca de 11 mil que, somados aos seus mais de 9 mil que já tinha, se tornou o prefeito com o maior número de votos da história da cidade.


Por isso a campanha de Nogueira focou em uma máxima: "mudança". Por mais que o tradicionalismo vencesse, desde 2008 a prefeitura não consegue eleger seu candidato de situação, mostrando que o campolimpense é tradicional sim, mas sem paciência para uma segunda oportunidade seguida.


Além disso, Adeildo não é nenhum novato na política. Já esteve presente nos bastidores da política da cidade e começou sua carreira política em 2008, na sua primeira tentativa à prefeitura campolimpense. Dois anos depois se candidatou a Deputado Estadual, ainda sem sucesso. Voltaria para a disputa uma década depois, quando ficou em segundo lugar em 2020 e agora, prefeito eleito, em 2024.


Durante todo esse tempo - entre 2008 e agora -, Nogueira construiu uma imagem que atende a quase todos os quesitos do tradicionalismo interiorano: casado, patriota, orgulhoso de suas raízes e religioso (só não gabaritou por que não é pai). Além disso, mudou para o partido do ex-presidente Jair Bolsonaro que, em 2018 e 2022 teve uma expressiva votação em Campo Limpo. Ainda em 2020, trabalhou como assessor na Secretaria Especial de Desenvolvimento Social do Ministério da Cidadania do governo Bolsonaro. 


Adeildo em seu ato de campanha nas ruas de Campo Limpo Paulista (Reprodução: Instagram Adeildo Nogueira)

Tudo isso colaborou para que nada o abonasse na visão do campolimpense. Portanto, ele pode não ser figurinha carimbada como é Dr. Luiz, mas com certeza tinha espaço para ele nesse álbum. 


Além de tudo isso, temos o fator imagem. E se você me permite, vou gastar um pouco do meu conhecimento de semiótica nessa análise. Dr. Luiz aparece nessa campanha - herança dos últimos anos - de barba branca. Isso poderia dar ao atual prefeito um ar de experiência e sabedoria contra uma juventude comportada e inexperiente de Adeildo. Mas na verdade a recepção pode ter sido outra: de um político envelhecido e repetido, contra um cara jovem cheio de energia.


A vitória de Adeildo Nogueira é histórica. Ele venceu a máquina, a tradição e um prefeito que, queira você ou não, não fez um mandato ruim - claro que a cidade precisa de melhorias, principalmente na área da Saúde, mas dizer que os últimos quatro anos da cidade foram desastrosos é um exagero - e tudo isso com um recorde de votação


O próximo prefeito herdará muitos contratos fechados e acordos firmados feitos pela atual gestão que começam a vir para a cidade a partir de 2025. Adeildo não irá pegar uma cidade em frangalhos, muito pelo contrário, o que só aumenta sua responsabilidade. Além disso, não terá vida fácil com a Câmara dos vereadores, onde apenas dois candidatos eleitos são do seu partido. Câmara essa que teve mais da metade de seus vereadores renovados.


Adeildo Nogueira é um fenômeno como um meteoro. Resta saber se será aquele tipo de meteoro que passa sem ninguém notar, aquele que deixa um rastro brilhante no céu e é lembrado com carinho e celebrado sempre que volta, ou aquele que destroi uma cidade inteira no primeiro impacto.


Conhecimento é conquista!

-FS




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