> Acordei cedo e sem muito ânimo para muita coisa. O clima estava mais preguiçoso que eu e a ameaça anêmica de chuva só me encorajava a ficar inerte na cadeira do meu escritório.
Até que o inconfundível Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, o MASP, surgiu na tela do meu celular e eu não me lembrava mais da última vez que eu fui. Decidi resolver esse problema.
Câmbio!
…
Você já experimentou almoçar fora em Jundiaí? Se não, prepare o bolso! A Terra da Uva é a 5ª cidade mais cara do estado para comer fora de casa. Uma média de R$ 53,01 por refeição. A minha com uma coquinha KS e um bombom Ouro Branco custou a bagatela de R$ 61,00.
Depois de quase uma indigestão pelo alto volume de sal no preço da minha comida, fui caminhando até a estação de trem para rumar à capital paulista. Particularmente adoro caminhar pela Av. dos Ferroviários, ela me traz uma paz estranha.
Assim que cheguei na estação começou a chover. E a sorte aumentaria quando cheguei na catraca e vi o trem acabando de estacionar e abrindo suas portas para mim como quem abre os braços e chama para um abraço caloroso.
Já aos pés vermelhos do MASP, olhei para cima e vi o mais paulistano dos climas: garoa, céu acinzentado e um friozinho bem de leve. A chuva cairia em breve e eu precisava me apressar para me manter seco. Paguei R$35,00 pelo ingresso e isso porque pago meia entrada por ser professor. Tá caro viver, e por isso, lá dentro desfrutei do seu riquíssimo acervo sem pressa nenhuma. Esses R$35,00 iriam render!
A primeira coisa que me chama a atenção é a obra de Flávio Cerqueira: no centro da primeira fileira de obras da galeria, um menino de bronze com uma lata de tinta branca nas mãos sobre a cabeça derrubando o líquido em seu corpo. A obra de 2015 é uma crítica clara às políticas de embranquecimento populacional que inundou o Brasil do final do século 19 e início do 20. "O menino, em um claro ato de desespero, está tentando branquear a própria existência para poder existir em um mundo branco", pensei aflito.
O acervo do MASP é realmente diverso: Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Volpi e Victor Meirelles, Rembrandt, Rafael, Van Gogh, Cézanne, Renoir, Monet e até Picasso. Mas além de Flávio Cerqueira, outro artista me fez ficar bons minutos olhando sua obra (e nem estou falando no Ingres, dono do famoso Jesus com as mãos pra cima e olhar de "que saco" que vai parar nos stories da maioria dos visitantes bem humorados do museu), estou falando dele: Candido Portinari.
A pintura em questão é "A Criança Morta", de 1944, que retrata uma família de retirantes nordestinos lamentando a morte de um dos filhos devido a seca. Não vou dizer muita coisa, olhe você mesmo e sinta o quão impactante ela é:
Tudo isso já tinha feito o rolê valer à pena, mas ainda teria mais. Nos andares inferiores, uma exposição intitulada de "Histórias LGBTQIA+" que reunia uma grande diversidade de artistas com obras que retratavam esse universo. Destaque para uma versão de Abaporu, de Rodolpho Parigi, todo trabalhado com uma roupa de látex que eu achei provocativo e engraçado.
Foi nessa exposição em específico que fui provocado a valorizar ainda mais a luta dessa comunidade pelo fim da intolerância e pelo direito de serem o que são. Lembrei de algumas pessoas incríveis que conheço e estão na linha de frente dessa guerra.
E a triste coincidência, daquelas que você não gostaria nunca de vivenciar, enquanto escrevia esse meu diário de bordo sobre um dia feliz no museu e de tudo o que eu havia visto e aprendido, recebo uma mensagem de meu amigo e parceiro de confabulações filosóficas, Rafael Testa.
"A Samy Fortes faleceu". Samy foi uma mulher trans que passou a vida toda lutando pelos direitos das mulheres como ela. Conhecida na cidade, não media esforços para levar dignidade as "suas irmãs", como gostava de chamá-las. Participou do primeiro TEDx Jundiaí em uma das palestras mais emocionantes que vi na vida. Todo mundo se emocionou e não estou exagerando.
Não falarei muito da Samy aqui. Ela merece um lugar de mais destaque e visibilidade que esse humilde blog ainda não é. Por isso, tudo o que eu gostaria de falar para ela e sobre ela, será dito na minha coluna no Jornal de Jundiaí na próxima terça-feira (7).
Por hora, fique com a palestra dela no TEDxJundiaí que mencionei acima.
Câmbio, desligo.
Conhecimento é conquista.
-FS
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