> Eu estava ainda lamentando a eliminação precoce do Miami Dolphins da temporada da NFL. Estava escrevendo um texto lamurioso sobre minha relação tóxica com esse time de futebol americano, mas resolvi parar para assistir ao Globo de Ouro.
A Fernanda Torres estava concorrendo ao prêmio de melhor atriz e eu não queria perder o momento. Deixei as chorumelas de lado e fui para a frente da TV para chorar por algo que realmente vale a pena: a vitória da atriz brasileira em um dos prêmios mais consagrados da TV e do Cinema mundiais.
O texto sobre os Dolphins vai ter que ficar para depois. O momento é todo da vencedora do Globo de Ouro de melhor atriz em filme de drama, Fernanda Torres.
Câmbio.
…
Se você é brasileiro e está minimamente antenado ao mundo do cinema, deve ter assistido “Ainda estou aqui” ou ciente de que Fernanda Torres, atriz protagonista do longa metragem de Walter Salles, está ganhando destaque no mundo e tem possibilidades reais de vencer o Oscar pela sua atuação.
Hoje - ou melhor, na madrugada de domingo para segunda -, direto de Los Angeles, a 82ª edição do Globo de Ouro foi realizada e transmitida para todo mundo, inclusive para o Brasil. Fernanda Torres concorria como melhor atriz em filme de drama e eu queria ver ela dividindo tela com a nata do cinema mundial.
A própria Fernanda havia dito em entrevista recente ao The New York Times que considerava impossível vencer o Globo de Ouro e que a indicação já era um prêmio. Essa fala, de certa maneira, me deixou bem mais leve e satisfeito com o que ela e o filme já alcançaram até aqui.
Mesmo assim, eu ainda estava (e estou) sedento por uma vingança cinematográfica. Há 25 anos, Fernanda Montenegro, mãe de Fernanda Torres, estava, como a filha, concorrendo a um prêmio de melhor atriz pelo filme Central do Brasil, também dirigido por Walter Salles. Na ocasião, o filme levou o prêmio de melhor filme em língua estrangeira, já Montenegro não venceu como melhor atriz, mas merecia ter vencido.
O filme de Walter Salles também estava concorrendo a melhor filme em língua estrangeira, repetindo o feito de Central do Brasil em 1999. Perdeu o prêmio para Emília Perez, filme francês dirigido por Jacques Audiard. "E se dessa vez for ao contrário? Perdemos de melhor filme mas ganhamos de melhor atriz?", imaginei.
Seguindo a recomendação da Fernanda Torres, eu me mantive tranquilo, sobretudo quando olhei as atrizes que concorriam com ela: Pamela Anderson, Angelina Jolie, Nicole Kidman, Tilda Swinton, Fernanda Torres e Kate Winslet. Dessas, só a Pâmela Anderson não tem ao menos um Oscar no currículo. Páreo duro!
Mas você sabe como nós, brasileiros, somos. Sempre nos apegamos ao mínimo de esperança. É isso que nos move. E eu estava aqui, no meu escritório escrevendo sobre um time de futebol americano, mas com os ouvidos atentos para a TV na sala. “O grande momento chegou!”, anunciou a apresentadora da TNT. Parei com o meu texto, avisei a Carol (que estava no banho) e fui para a frente da televisão.
Um frio na barriga descontrolado me tomou. “Eu vi o filme, sei que ela tem totais condições de vencer esse prêmio”, pensava enquanto cutucava a ponta dos meus dedos em sinal de clara ansiedade.
Viola Davis, divíssima, aparece para anunciar as indicadas e, na sequência, a escolhida. A tradutora simultânea da TNT tão nervosa quanto todo mundo. Na tela, Fernanda Torres era um poço de tranquilidade. Ou estava mesmo ou essa mulher é a melhor atriz do mundo de fato.
“O Globo de Ouro vai para”... Aí a tradutora solta um “Ai” e produz um som de batida no microfone. Foi um spoiler de três segundos. Transmissões assim, que requerem tradução simultânea, tem um pequeno delay para que os profissionais possam traduzir e o público, ter na tela, uma tradução no exato momento que a pessoa está falando em inglês. Tudo para melhorar a experiência.
A falta de cuidado da tradutora foi o suficiente para eu saber o resultado três segundos antes de Viola Davis dizer em um inglês macarrônico “FeRnenda Toures”. Dei um grito e corri rumo ao banheiro. Carol tinha acabado de desligar o chuveiro. “Ela ganhou! Ela ganhou!!” Enrolada na toalha e ainda pingando, Carol aparece no discurso da atriz brasileira e lamenta ter perdido um momento histórico, mas com um sorriso no rosto em ver uma brasileira com um dos troféus mais importantes do audiovisual mundial nas mãos. Mãos que nem tremiam, ao contrário das minhas que mal conseguiam segurar o celular para tirar uma foto da TV.
Em seu discurso, tão divíssima quando Viola Davis, Fernanda Torres começa dizendo que não tinha preparado nada. Ela realmente já estava grata por simplesmente concorrer. Mas como uma grande atriz que é - e agora vencedora do Globo de Ouro -, improvisou um discurso belíssimo no qual enalteceu e lembrou sua mãe, que estava ali 25 anos atrás.
Toda a minha frustração por causa do esporte desapareceu. Agora eu sou só orgulho de ser brasileiro. Não sei que horas vou dormir, to agitado demais pensando no que todo brasileiro está pensando após essa vitória gigante: “A vingança do Oscar da vergonha é mais real que nunca!”
Câmbio, desligo.
Conhecimento é conquista.
-FS
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